Bunge amplia investimentos na área de cana

A americana Bunge vai investir US$ 350 milhões neste ano em suas operações de cana-de-açúcar. Trata-se do maior volume de recursos entre todos os negócios da multinacional no Brasil, segundo Pedro Parente, presidente da companhia no país. A maior parte do capital será destinada ao aumento da área plantada de cana. Se o clima oferecer condições, 300 mil hectares da gramínea serão cultivados este ano pela Bunge, entre áreas novas e de renovação de cultivos antigos.

A Bunge entrou no segmento em 2006, e os investimentos nessa área já representam de 70% a 80% de tudo o que a empresa deve aplicar no Brasil em 2011, diz Parente. Com capital aberto na bolsa de Nova York, a companhia precisa sincronizar a capacidade industrial de suas unidades com a quantidade de cana disponível, observa o executivo.

Na safra encerrada em 31 de março, a 2010/11, as sete usinas brasileiras do grupo processaram apenas 13,4 milhões de toneladas, 7,6 milhões de toneladas abaixo de sua capacidade instalada, que é de 21 milhões de toneladas por safra. Em dois meses, a Bunge começa a operar a oitava unidade sucroalcooleira. A usina foi construída no município de Pedro Afonso (TO).

Em três anos, a área agora em plantio deve começar a produzir grandes volumes de matéria-prima para processamento nas usinas. A companhia espera que, então, estará perto de atingir seu potencial industrial de moagem de 21 milhões de toneladas de cana.

Quanto tiver alcançado esse potencial, diz Parente, o segmento de cana-de-açúcar deverá gerar resultado semelhante ao da maior unidade de negócio da Bunge no Brasil, a de “agribusiness” – que engloba as operações de trading e a primeira fase de processamento de grãos. “A área de cana se tornou um dos pilares estratégicos da Bunge mundial”, afirma Parente.

Por conta das ações listadas em bolsa, o executivo evita fazer projeções, sobretudo as que tratam de crescimento futuro. Mas, em termos qualitativos, afirma, a meta é dar um “salto importante” em cana-de-açúcar até o ano de 2015.

A estratégia para que isso ocorra – por meio de greenfields (usinas construídas a partir do zero), brownfields (ampliação de unidades já existentes) ou aquisição – ainda é objeto de discussão interna. Mas a empresa já identificou, por exemplo, que somente com ampliação das usinas pertencentes ao grupo é possível avançar de uma capacidade de moagem de 21 milhões de toneladas de cana por safra para algo entre 35 milhões e 40 milhões.

A eventual aquisição de usinas parece estar fora do radar da companhia no momento. A Bunge só tem observado as recentes negociações de compra e venda de usinas que acontecem no mercado. “Estão pagando um pouco caro”, avalia Parente sobre a compra de ativos sucroalcooleiros no Centro-Sul.

De acordo com ele, a estratégia de crescimento dessa divisão de negócios da Bunge está em discussão no planejamento estratégico da empresa, neste momento em revisão. O etanol, entretanto, continua no centro dos fundamentos do setor. “O país fez a opção pelo etanol em termos de combustível, o que continuará dando sustentação ao açúcar no longo prazo”.

Duas das oito usinas da Bunge produzem apenas etanol – a Pedro Afonso (TO) e a Monteverde (MS). A participação integral nesta última foi comprada no primeiro trimestre deste ano do empresário gaúcho Flávio Wallauer, que tinha 40% do negócio.

Investimentos para ampliar a cogeração de energia também estão nos planos da Bunge. Atualmente, as usinas da empresa cogeram 270 gigawatts/hora a partir do bagaço da cana. A meta é até 2013 atingir 1 mil gigawatts/hora. “Essa produção será equivalente a duas vezes o consumo de todas as unidades de negócios da Bunge em todo o Brasil”, calcula Parente.

Desde que iniciou sua atuação em cana-de-açúcar, em 2007, a Bunge já investiu R$ 5 bilhões nesse segmento. Até 2009 tinha apenas duas usinas e um projeto greenfield em construção. Comprou no início de 2010 as cinco usinas do grupo Moema e aproveitou, além dos ativos, a expertise em cana dos profissionais que lá trabalhavam.

Atualmente, a vice-presidência, a direção agrícola e operacional dessa área de negócio ficam a cargo de ex-executivos da Moema. Segundo Parente, as áreas de trading e de gestão de desempenho são lideradas por executivos que já estavam na Bunge.

Fonte: Valor, em 27/05/2011

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