Acidente de trabalho deixa 34 feridos por dia

Acidentes de trabalho têm aumento de 16% na região em 2011 na comparação com 2010, com a liderança das ocorrências nos setores de metalúrgica, saúde e construção civil. Por dia, em média 34 trabalhadores sofrem acidente que deixam ferimentos e até amputação de membros. São cerca de 1 mil ocorrências por mês. Só ano passado, 12.274 trabalhadores ficaram feridos ou tiveram perda de membros. No ano anterior, foram registrados 10.506 casos.

 

Os dados são do Sistema de Informação e Vigilância de Acidentes de Trabalho (SIVAT) de Rio Preto baseados nos atendimentos fornecidos pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), e mostra que enquanto na cidade a quantidade acidentes deste tipo subiu de 9.470 para 9.821, o número mais do que dobrou na região, passando de 1.036 para 2.453 em 2011. Já o número de óbitos caiu de 20 para 11.

 

A grande quantidade de acidentes reflete nos cofres públicos. Só no ano passado, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) gastou o equivalente a R$ 269 milhões em Rio Preto e região com trabalhadores que ficaram afastados por acidente de trabalho ou que tiveram sequelas e com isso a capacidade de trabalho reduzida. Foram 6.565 afastamentos. Os ramos de metalúrgica, saúde e construção civil permanecem como os mais perigosos, responsáveis por 22% dos casos. No ano passado, ficaram feridos 1.229 metalúrgicos, 872 trabalhadores de hospitais, clínicas e laboratórios, e 636 da construção civil.

 

O fresador Joaquim Francisco Feitosa, 44 anos, funcionário de uma metalúrgica, faz parte da estatística do ano passado. No dia 15 de junho, ele teve a perna ferida e o tornozelo fraturado depois de ser prensado por uma chapa de ferro de 140 quilos por uma falha de um colega de trabalho, que pode ter sido causa por um despreparo profissional. "Fomos descer o material do caminhão e o rapaz que me ajudava não aguentou segurar. Por pouco não perdi o pé", disse.

 

Ele ficou afastado por seis meses do trabalho e até hoje carrega sequelas do acidente. "Sinto ainda muita dor no pé, principalmente de madrugada", completou. Para técnicos de segurança ouvidos pelo Diário, as principais causas dos acidentes de trabalho são falta de uso de equipamentos de proteção e de capacitação de profissionais. "Os acidentes acontecem não só por falta de equipamentos de segurança individuais e coletivos; a ausência de qualificação também é um fator determinante. O trabalho desconhece os riscos que está correndo", afirma Douglas William Hakimi Soares, coordenador do curso técnico em Segurança do Trabalho do Senac Rio Preto.

 

Levantamento da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo aponta que uma pessoa morre a cada três dias por queda de laje no Estado de São Paulo. Somente no ano de 2011, foram registradas 2.649 internações causadas por quedas acidentais de estruturas como lajes, balcões ou sacadas, muros, telhados e torres. Desse total, 136 pessoas morreram em todo o Estado.

 

Um deles foi soldador Antonio Donizete Gonçalves de Oliveira, 55 anos, que morreu em novembro do ano passado devido ao mau uso do equipamento de segurança. Ele caiu de uma altura de 3,2 metros enquanto soldava uma viga para retirada de um equipamento na Usina Santa Izabel, em Novo Horizonte, e teve traumatismo craniano. Testemunhas afirmaram à polícia que a vítima teria se desequilibrado e caído ao modificar o cinto de segurança na corda-guia. O equipamento serve justamente para prevenir esse tipo de queda.

 

"Ele sempre trabalhou nessa profissão e nunca tinha sofrido acidente. Não imagino o que possa ter acontecido, mas a morte dele trouxe muita tristeza. Sinto falta de uma companhia dentro de casa", afirma a viúva Marlene Aparecida Pedroso de Oliveira, 52 anos. Na opinião da gerente do Cerest, Iara Lucia de Lima Machado, as empresas deveriam investir mais na segurança de seus funcionários. "Quando ocorre um acidente grave identificamos as causas e pedimos um projeto para evitar novos casos, mas essas medidas deveriam ser tomadas como preventivas", disse.
Guilherme Baffi
 

Trabalhadores se arriscam

 

Em uma hora de observação, a reportagem do Diário flagrou cinco casos na semana passada. No quarto andar de um edifício, um pedreiro estava do lado de dentro da janela e rebocava a parede externa com metade do corpo para fora do prédio sem ao menos estar preso a um cabo guia. Na obra ao lado, funcionários trabalhavam na cobertura também sem estarem presos ao cabo. Em outro prédio, um pedreiro rebocava a parede em cima de um andaime sem nenhum item de segurança.

 

O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) e o Ministério do Trabalho afirmam que fazem a fiscalização. Mas a atividade nem sempre produz efeito. No caso do Cerest, os técnicos só vão até a empresas quando ocorrem acidentes considerados graves. A fiscalização preventiva não é feita.

"O pessoal só tem condição de fiscalizar quando acontece acidente. Infelizmente essa é a realidade", afirma o engenheiro eletricista Paulo de Andrade Castro, pós-graduado em segurança do trabalho, da empresa Tec-Setra. A gerente do Cerest confirma o problema, mas diz que a pasta tem investido em visitas.

 

Fiscalização terá aperto

 

Desde 2008, a Previdência Social promoveu mudanças no sistema de notificação de acidentes de trabalho e por conta disso aumentou a fiscalização. Por isso o número vem aumentando ano a ano, segundo o engenheiro eletricista Paulo de Andrade Castro, pós-graduado em segurança do trabalho, da empresa Tec-Setra, especializada neste ramo. "No ano da implantação e em 2010 muita coisa foi discutida, porém eles pegaram firme na fiscalização no ano passado", afirmou.

 

Com a mudança, cada empresa paga um valor de imposto à Previdência, de acordo com o potencial de risco avaliado por meio do número de Comunicações de Acidentes de Trabalho (CAT). "As empresas são obrigadas a abrir uma CAT em qualquer acidente porque se o profissional vai para o hospital e o Ministério do Trabalho é informado, a firma é vista com maus olhos e pode até sofrer punição", disse.

 

Ainda de acordo com o especialista, antes é necessário provar que foi um acidente de trabalho, porém, agora, pelo nexo causal ligado a cada função o acidente de trabalho pode ser constatado. "A empresa é que tem de se virar para provar se não houve."

Deixe um comentário