Para indústrias de base, usinas investirão mais

Depois de remarem por quase três anos contra uma correnteza que reduziu encomendas, ceifou faturamentos e lucros e provocou demissões, as indústrias de base que fabricam equipamentos para as usinas de açúcar e etanol no país começam a acreditar que o pior ficou para trás.
Se as perspectivas de longo prazo do segmento nunca deixaram de ser promissoras, tendo em vista a forte demanda global por açúcar e a disseminada utilização do etanol nos tanques dos veículos no país, o aumento de consultas e pedidos de orçamento sugere às empresas de equipamentos que a maré começou a virar – para melhor.
Nada capaz de salvar 2012, já que as conversas que resultarão em grandes projetos novos ainda não passam de "flertes". Mas talvez os planos de ampliação que começam a emergir tornem-se ao menos um alento este ano e pavimentem o terreno para a retomada de um crescimento mais vigoroso das vendas a partir do ano que vem.
Ainda não há, por exemplo, novos pedidos formais de crédito para a construção de usinas no BNDES, vital nesse tipo de financiamento. Mas diferentes fontes – inclusive o próprio BNDES – já projetam a construção de pelo menos 100 unidades no Centro-Sul entre 2013 e 2020.
Maior fabricante de usinas completas e equipamentos para unidades sucroalcooleiras do país, a Dedini Indústria de Base, com sede em Piracicaba (SP), é um termômetro desse momento de mudança de expectativas.
Acabrunhado até o início do ano, José Luiz Olivério, vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da Dedini, voltou a demonstrar sinais de seu costumeiro otimismo com esse mercado em entrevista concedida por telefone ontem ao Valor.
Nesse primeiro semestre, afirmou ele, os negócios da empresa no segmento sucroenergético mostraram-se mais aquecidos do que no mesmo período do ano passado graças à ampliações e adaptações de usinas, e o faturamento nessa frente no ano deverá aumentar entre 10% e 15%.
Em 2011, o faturamento total da Dedini foi de cerca de R$ 900 milhões – ante R$ 1,2 bilhão em 2010 -, dos quais R$ 400 milhões na área sucroenergética e o restante com a venda de equipamentos para petroquímicas, hidrelétricas e cervejarias, por exemplo.
No auge da onda do etanol, em 2008, a empresa faturou R$ 2,2 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão em negócios envolvendo usinas de açúcar e etanol. Naquele ano, crista da recente onda do etanol no país, a Dedini empregava 6,5 mil pessoas, número que recuou para cerca de 3 mil atualmente.
Segundo Olivério, o aumento das vendas no segmento sucroenergético não deverá resultar no incremento do faturamento total da Dedini, que tende a repetir em 2012 os R$ 900 milhões de 2011, mas representará um reequilíbrio no perfil operacional do grupo, que costuma responder por entre 40% e 50% das vendas de equipamentos para usinas no Brasil.
Para o executivo, é um primeiro passo. Outros maiores virão. Ele lembra que, além do BNDES, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, também preveem a construção de pelo menos 100 unidades sucroalcooleiras no país de 2013 a 2020.
"É raro um cenário tão coincidente em três fontes como essas". Olivério ressalva que boa parte desses projetos dependerá das políticas públicas em discussão para apoiar produção e vendas de etanol no país, que perdeu competitividade em relação à gasolina com a oferta limitada nos dois últimos anos e os decorrentes preços elevados do biocombustível.
E faz contas. Hoje, a capacidade instalada de moagem de cana no Centro-Sul é da ordem de 700 milhões de toneladas por safra, mas o volume processado não passa de 600 milhões. Essa diferença sugere que não é preciso investir na área industrial no momento, mas, como há aportes em curso em renovação e ampliação de canaviais, gargalo recente do segmento, será preciso ampliar a capacidade para evitar outro gargalo no futuro.
Olivério enriquece a equação com os veículos flexfuel. Conforme ele, estatísticas mostram que, com os picos de preços do etanol nos últimos anos, o biocombustível passou a abastecer apenas entre 35% e 40% da frota brasileira de carros flex. "Há uma demanda reprimida por etanol que sinaliza que a moagem de cana pode facilmente chegar a 800 milhões de toneladas".
Nesse contexto, e em tempos de consolidação e busca frenética por escala, produtividade, diversificação e valor agregado, o vice-presidente da Dedini antevê que os novos projetos de usinas serão maiores que os do boom observado na década passada.
De 2003 até agora, 115 novos "greenfields" (usinas construídas do zero) saíram do papel. As que entraram em operação entre 2008 e 2011, por exemplo, têm capacidades de processamento que normalmente variam de 2 milhões a 4 milhões de toneladas por safra. Na nova onda, prevê Olivério, essa média subirá para entre 4 milhões e 6 milhões de toneladas.
"A indústria brasileira de bens de capital tem todas as condições para atender a essa expansão. Dependendo do ritmo da retomada, a Dedini poderá retomar o ritmo de 2008 até 2015 ou 2016", estima o executivo. Para quem não estava recebendo nem consultas de negócios sucroenergéticos em dezembro, trata-se de uma significativa mudança de humor.

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