O que o consumidor sentiu no bolso foi constatado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Curitiba teve, em novembro, a segunda maior taxa de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entre os 11 locais pesquisados. A alta de 1,15% no mês, quase o dobro da taxa nacional, de 0,60%, teve como principal impacto a disparada nos preços dos postos de combustíveis de Curitiba na véspera do Feriado de Finados – em apenas um mês, os combustíveis subiram 10,91%: apenas esse índice correspondeu à metade do acumulado do mês de novembro.
O índice mensal em Curitiba foi o maior do ano e quase três vezes maior que o registrado em outubro, quando o IPCA da capital paranaense ficou em 0,39%. Em Curitiba, no final de outubro e no início de novembro, os motoristas foram surpreendidos com altas, do dia para noite, de R$ 0,50 no litro da gasolina e R$ 0,20 no etanol.
Esse aumento repentino veio com o índice de novembro, como a Gazeta do Povo já havia previsto no início do mês passado. Pelas contas de economistas ouvidos à época, uma alta de cerca de 15% gera um impacto de até 0,75% na inflação geral de Curitiba, quase duas vezes o índice registrado em outubro.
No mês passado, o derivado de petróleo subiu 12,71% e o biocombustível, 5,73%. Para efeito de comparação, o item "Combustíveis", que teve alta de 10,91% em Curitiba, teve deflação – quando o valor diminui – em seis das 11 capitais pesquisadas.
Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, ressalta que os preços médios dos combustíveis em Curitiba estavam defasados em relação a outras capitais. "Houve uma recuperação de preços, que deixou o valor da gasolina igual a do Rio de Janeiro e semelhante ao de Salvador", afirma.
O argumento, porém, não convence Sandro Silva, economista do Dieese-PR, que considera que os postos reajustaram os combustíveis sem justificativa. "Curitiba tem, historicamente, o menor preço da gasolina. Como não houve repasse da distribuidora nem aumento de custos com trabalhador no período, o que se observa é um aumento da margem dos postos e, consequentemente, seu lucro", pondera Silva.
Daniel Mojima, diretor do Centro Estadual de Estatísticas do Ipardes, tem a mesma opinião. Ele calcula ainda que 50% da formação do IPCA de Curitiba tenham vindo dos combustíveis, sendo 30% só da gasolina. "Houve uma recomposição da margem dos postos. Esse aumento causou certo `estrago´ no índice de Curitiba, que estava mais baixo que o nacional, e agora deve fechar o ano mais próximo do índice oficial", analisa.