Gasolina pode ter adição menor de álcool

O governo estuda a possibilidade de reduzir o percentual de álcool misturado à gasolina para tentar segurar o preço do combustível renovável, em alta em dez Estados brasileiros. E uma campanha é preparada para orientar os consumidores a reduzir o consumo do álcool.

A redução do álcool na gasolina, avaliada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) e pelo Ministério de Minas e Energia, poderá ser anunciada em até duas semanas. Já os anúncios devem ser veiculados principalmente no rádio, nos Estados onde abastecer com gasolina está mais vantajoso.

Segundo a Folha apurou, no entanto, não há consenso dentro do governo em relação à medida. Os ministérios de Minas e Energia e a Casa Civil estão a favor, e o Ministério da Agricultura, contra. Em outubro, o preço do álcool subiu cerca de 10%, tornando-o desvantajoso em relação à gasolina nos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Roraima, Pará, Amapá, Espírito Santo, Amazonas, Piauí, Acre e Minas Gerais.
Em média, o preço foi de R$ 1,475 em setembro para R$ 1,624. Hoje, a gasolina nos postos tem 25% de álcool anidro em sua composição. Podemos descer até 20% ou um patamar intermediário, disse o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima.
Com a redução para 20%, seriam adicionados 100 milhões de litros de álcool por mês no mercado, o que poderia forçar os preços para baixo.

Flex

Com a proliferação dos carros flex, que correspondem à quase totalidade da venda de veículos novos de passeio no país, o consumo de álcool disparou. Até setembro, as vendas do combustível cresceram 27% no ano. Por mês, são 1,45 bilhão de litros. Já a de gasolina está em queda de 1% neste ano, na faixa de 2 bilhões de litros/mês.
O álcool misturado à gasolina difere do produto vendido nas bombas por não ter adição de água e é conhecido como álcool anidro. Aquele utilizado para abastecer carros tem 7% de água em sua composição, chamado álcool hidratado.

Se o governo decidir pela redução de álcool anidro na gasolina para 20%, a oferta mensal de álcool aumentará em 107 milhões de litros, ou cerca de 7% das vendas atuais (considerando a transformação do produto anidro em hidratado).

A última vez em que o governo recorreu ao expediente foi em 2006. Na época, especialistas apontavam que, com os preços do açúcar em alta no mercado externo, produtores optaram por direcionar parte da produção de cana para o açúcar. A decisão vigorou por nove meses, quando o percentual foi elevado para 23%. A medida acabou revogada em meados de 2007, quando se passou a usar o percentual de 25% de novo.

Neste ano, o motivo alegado pelos produtores foi o excesso de chuva, que prejudicou a produção de cana-de-açúcar, disse Lima.
Ele afirmou que a possibilidade de formação de estoques reguladores de álcool não é considerada. A alternativa foi discutida em 2006: o governo criaria reservatórios para o produto, que poderia ser usado quando a oferta caísse, elevando seu preço. Os estudos mostraram que essa medida seria muito cara, diz Lima. Marcos Jank, presidente da Unica (entidade que reúne os produtores de cana-de-açúcar), esteve em Brasília para tentar convencer o governo a esperar até dezembro para avaliar melhor a safra.

Para Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da entidade, não adianta o governo tentar reduzir o percentual da mistura. Ele avalia que o preço ainda vai subir mais e o ajuste vai acontecer quando o consumidor avaliar que o preço do álcool está muito alto. O ajuste vai ser via mercado, disse.
De acordo com Rodrigues, houve frustração da safra, e a produção de álcool e açúcar será menor do que a esperada, apesar do aumento da quantidade de cana colhida.

Desvantagem

Para saber se é mais vantajoso abastecer com álcool ou gasolina, o consumidor deve dividir o preço do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado for superior a 0,7, é melhor abastecer com gasolina. A conta considera o potencial de energia liberada com a queima dos dois combustíveis.

Fonte: FOLHA DE SP, em 11/11/09

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