Gringos invadem o nosso negócio de quatro séculos

Havia um discreto tom de alerta na reportagem da revista “Exame” em julho de 2007: o capital estrangeiro está invadindo as usinas de açúcar e álcool do país. Um negócio nacional de mais de 400 anos passa ao controle de estrangeiros.

Três anos depois daquela reportagem, as principais usinas de açúcar e álcool de São Paulo, 25% no Brasil, várias delas na região de Rio Preto, estão sob controle ou em parceria com grupos estrangeiros.

A francesa Tereos assumiu 69,3% do controle acionário da Açúcar Guarani, uma das líderes do mercado sucroalcooleiro brasileiro, com cinco unidades industriais no noroeste do estado e uma na África, em Moçambique.

Na segunda semana de janeiro, a Bunge, com sede em Nova York, anunciou a compra de 100% de participação de mais quatro usinas do Grupo Moema, concluindo a aquisição do grupo iniciada em dezembro. A francesa Dreyffus incorporou as usinas da Santelisa Vale.

Nesta semana, o grupo indiano Shreen Renuka confirmou a disposição de desbancar a Bunge, a Noble e o fundo Renewable Energy Company (VREC) na disputa por duas usinas do grupo paulista Equipav.

A usina Cerradinho, de Catanduva, que renegociou os R$ 450 milhões de sua dívida de curto prazo, já se oferece no mercado internacional. Em 2010, a prioridade é ter uma parceria estratégica. A capacidade de crescer sozinho está no limite, diz Luciano Sanches Fernandes, presidente do grupo.

Para o pesquisador rio-pretense José Mário Ferreira de Andrade, autor de estudos de impactos ambientais da cana-de-açúcar em São Paulo, a tendência de concentração das usinas nas mãos de poucos grupos terá consequências para o consumidor. “Quem controla produção, controla preço.”

Meia-dúzia de estrangeiras vão controlar as 400 usinas
Meia-dúzia de grandes grupos, a maioria deles estrangeiros, vai assumir as 400 usinas de açúcar e álcool existentes no Brasil, na visão dos analistas. Famílias tradicionais como Biaggi, Junqueira e Rezende Barbosa já não são mais usineiros.

A descapitalização desse setor que está há 400 anos nas mãos de brasileiros favoreceu a entrada das empresas estrangeiras. A opinião é do economista rio-pretense Diego Siqueira Lima, 27, das Faculdades D. Pedro 2º. Os preços das usinas caíram, o que ampliou o interesse do capital externo. “Não vejo como um fato negativo. Não é dinheiro para especulação. Ao contrário, são investimentos, para maior produtividade e para modernização gerencial”, diz Lima.

Com o apelo em favor do combustível renovável, aliado à produção crescente de veículos flex (gasolina-álcool), a médio e longo prazos a remuneração desses investimentos é muito viável, no entender do economista.

Já o engenheiro rio-pretense José Mário Ferreira de Andrade, autor do estudo “Impactos Ambientais da Agroindústria da Cana de Açúcar: Subsídios para Gestão”, apresentado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba, vê outras consequências.

“Hoje o consumidor paga R$ 0,90 ou R$ 1 pelo litro de álcool nas bombas durante o pico da safra e R$ 1,70 na entressafra”, afirma. “Com a concentração dos estoques em poucas empresas, haverá uma oferta controlada e esse controle de mercado deixará o litro a R$ 1,70 o ano todo.”

Da produção mundial de 40 bilhões de litros, 16 bilhões são do Brasil. O país é eficiente no setor, com custo de produção de 22 centavos de dólar por litro, diante de 30 centavos dos EUA e de 53 da União Européia.

Fonte: Agência BOM DIA

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