Brasil larga na vanguarda do plástico verde

Alguns anos atrás, o Brasil assumiu a liderança do mercado mundial de biocombustíveis com a cana-de-açúcar, matéria-prima mais eficiente e barata na produção de etanol. A tecnologia fez com que o modelo brasileiro fosse estudado em todo o mundo. A partir desta sexta-feira, a planta vai colocar o País mais uma vez em destaque, só que desta vez com um novo produto: o plástico verde.

A petroquímica Braskem vai inaugurar oficialmente nesta sexta-feira no polo de Triunfo, no Rio Grande do Sul, uma fábrica com capacidade para produzir 200 mil toneladas de resina plástica feito a partir da cana-de-açúcar. O plástico verde vai colocar o Brasil numa posição privilegiada no mercado, disse José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Vamos oferecer plástico comum, feito com combustível fóssil, e plástico verde, produzido a partir de cana-de-açúcar.

O plástico verde da Braskem tem a aparência e as propriedades de um polietileno comum. Ele pode ser usado na fabricação de qualquer produto que usa esse tipo de polímero: frascos, embalagens, sacolas, peças de automóveis e móveis. A semelhança é tão grande que, para diferenciá-lo, a empresa vai colocar um selo onde se lê I´m Green (Sou Verde, em inglês).

A diferença do plástico verde está no processo produtivo, que usa uma fonte de energia renovável para produzir o gás eteno. Num primeiro momento, a capacidade de produção será modesta: apenas 3% do total de polímeros feitos pela Braskem. É um mercado jovem, mas muito promissor, afirmou Ruy Chammas, vice-presidente da unidade de polímeros da empresa. O tema sustentabilidade tem um apelo muito grande.

A Braskem não divulga o valor do plástico verde. Mas estima-se que o preço do produto seja até 30% maior do que o convencional. É como comparar uma BMW com um Uno, disse Chammas. São produtos muito semelhantes, mas com conceito completamente diferente. Apesar do preço mais salgado, dois terços da produção da nova fábrica já estão vendidos. Cerca de 70% terá como destino o exterior, principalmente Estados Unidos, Europa e Japão.

Segundo a Braskem, companhias como Natura, Tetra Pak, Procter & Gamble e Johnson & Johnson já fizeram encomenda do material. A Braskem vai focar em nichos de mercado com produtos de alto valor agregado, que têm na sustentabilidade um diferencial competitivo, disse Coelho, da Abiplast. Em indústrias como a de alimentos, a diferença de centavos faz a diferença na hora de fazer a compra.

Apesar do selo verde, o novo plástico da Braskem não resolve um problema antigo: o lixo produzido pela indústria que emporcalha rios, oceanos e a natureza em geral. Isso porque o produto é feito a partir de uma fonte de energia renovável, mas não significa que é biodegradável. Ou seja, se ele for jogado na natureza vai demorar o mesmo número de anos para se degradar do que o plástico convencional.

Apesar de reconhecer que o tema é importante, a Braskem acha que é preciso mudar outra coisa. Uma coisa que tem de mudar é a educação da pessoa, disse Chammas. Não é o plástico que vai mudar a consciência das pessoas. Segundo a empresa, o novo plástico pode ser reciclado como outro plástico qualquer: é moído e passa por um processo químico para gerar mais plástico ou é queimado para gerar energia elétrica. Não adianta ter um produto biodegradável, que vai virar CO², água e desperdiçar energia na natureza, disse o executivo da Braskem.

A ideia de produzir um plástico verde surgiu com a demanda de clientes. A empresa resolveu investir cerca de US$ 5 milhões em pesquisas. Durante os trabalhos, a empresa percebeu que havia uma demanda de 600 mil toneladas por ano do produto – ou três vezes mais do que a capacidade atual da empresa. O anúncio da fábrica aconteceu há quase três anos pelo então presidente da companhia, José Carlos Grubisich, e fez sucesso quando foi apresentado numa feira de polímeros, realizada na Alemanha. É o maior projeto da inovação da Braskem comandada hoje pelo engenheiro Bernardo Gradin.

Ao todo, a Braskem investiu R$ 500 milhões no projeto. No mercado, há pessoas que acreditam que a petroquímica já está pensando numa segunda fábrica de plástico verde. A empresa não comenta o assunto, mas admite a chance de fazer outros polímeros verdes, como o polipropileno (usado em peças) e o PVC (encontrado tubos e conexões hidráulicas). Provavelmente teremos outras unidades, além de novos produtos, afirmou o vice-presidente de petroquímicos da companhia, Manoel Carnaúba.

Fonte: Udop, em 23/09/2010

Deixe um comentário