Lula defenderá biocombustíveis na FAO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai usar o palco da abertura da Cúpula de Chefes de Estado da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, na terça-feira (03/06), como ringue para mais um round na defesa dos biocombustíveis. Com números, dados e acusações mais fortes ao “lobby da indústria petrolífera” e aos subsídios agrícolas dos países ricos, o presidente sabe que vai ocupar o que provavelmente será uma posição solitária nos próximos anos, mas que deve, ao menos, valer as luzes dos holofotes na Itália, onde se encontra desde ontem.

Lula quer mostrar na FAO que o Brasil é hoje, fora os Estados Unidos, o único país que produz efetivamente etanol e não está às voltas com crise de alimentos. No Brasil, dirá, a produção de etanol cresce, mas a de alimentos tem crescido ainda mais, e o País continua abastecendo o mercado internacional de grãos. “Não há nenhuma base científica ou técnica para essas acusações. É uma briga que o Brasil resolveu comprar mesmo que tenha que defender sozinho a produção de etanol em todos os fóruns internacionais”, disse ao Estado um assessor do presidente.

A defesa dos biocombustíveis será também uma das principais tarefas da empresa internacional de relações públicas que o governo contratará por meio de licitação. A idéia é preparar fóruns e conferências para influenciar empresários e a opinião pública mundo afora. O foco do discurso mostrará que a vinculação do etanol à inflação de alimentos e à destruição da Amazônia teria por trás o lobby das petroleiras e dos governos europeus, às voltas com pressões sobre os subsídios a seus agricultores.

MERCADO CRESCENTE

O Brasil tem interesse econômico direto na ampliação do mercado internacional de etanol. Com a resolução da União Européia (UE) que obriga todos os países a adicionar 10% de etanol à gasolina até 2020, abre-se um imenso mercado para a exportação brasileira. Hoje, nenhuma das alternativas criadas na Europa é viável economicamente para produção em larga escala, mesmo com subsídios locais e sobretaxas impostas à importação do etanol brasileiro. Com a resolução em vigor, a alternativa mais provável seria a importação.

No entanto, a imagem que o governo brasileiro vai vender é menos “comercialmente egoísta” e mais palatável internacionalmente. Já em negociações com países africanos e caribenhos para transferir tecnologia na área, o governo brasileiro vai mostrar que o mercado interno de carros “flex” (movidos a álcool ou gasolina) só cresce e a indústria brasileira se sustenta sozinha.

O Brasil vai ainda vincular essa estratégia do etanol à redução da pobreza. Seria uma forma de se chegar a um novo equilíbrio internacional e aumentar a renda, avalia o governo, já que a cana-de-açúcar e a maior parte das culturas que podem ser usadas no biodiesel só se dão bem em áreas tropicais, como África, Caribe e parte da Ásia. Seria a redenção dos miseráveis mundiais.

Fonte: O Estado de SP, em 01/06/2008

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