Bauru: álcool bate recorde em novembro

Preço do etanol em Bauru é o mais alto para o mês nos últimos dez anos; tendência é de mais aumentos com entressafra Tânia Morbi Em dez anos, o preço do etanol para esta época do ano nunca esteve tão alto. Considerando apenas os meses de novembro entre 2001 e 2011, este foi o que registrou o valor mais elevado do combustível, atualmente vendido a R$ 1,89, o litro, nas bombas dos postos de combustíveis de Bauru.

E a tendência é de que o preço continue subindo a partir de agora até abril de 2012, período correspondente à entressafra da cana-de-açúcar, matéria prima para a produção do álcool. Somente devido a este aumento, segundo apontam especialistas, é que o produto não deverá faltar nos estabelecimentos.

"No mês que vem, o litro do etanol já estará custando mais do que R$ 2,00. Neste preço, nenhum consumidor vai querer comprar, então vai sobrar mercadoria", adianta Edivaldo Tuschi, empresário do ramo. De qualquer maneira, por precaução, o governo reduziu, desde o mês passado, a porcentagem de álcool anidro adicionado à gasolina, de 25% para 20%, para que haja mais etanol disponível no mercado.

A alta dos preços é explicada por uma conjunção de fatores que levaram à redução do rendimento agrícola em 5,6% neste ano. Associado a um padrão climático desfavorável e ao envelhecimento do canavial brasileiro – resultado da falta de investimento em novas plantas nas últimas safras, as cotações atraentes do açúcar no mercado internacional levaram os usineiros a optar pela produção desta commodity, o que diminui ainda mais oferta interna de álcool.

"Para piorar este cenário, tivemos uma explosão de vendas de carros flex nos últimos anos, fazendo surgir uma grande demanda por etanol, sem que a oferta tivesse condições de acompanhar", pondera o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sincopetro) em Bauru, José Antônio Reghine.

De acordo com ele, os preços nas bombas só não estão mais altos porque impera em Bauru uma "guerra de concorrência" que força os donos de postos a comercializar etanol praticamente com lucro zero. "Nas companhias, não houve redução de preço, então o produto vem sendo vendido nos postos praticamente a preço de custo. É uma guerra que ocorre há muito tempo em Bauru: para conseguir conquistar mercado, alguns postos jogam o preço para baixo e forçam os demais estabelecimentos a vender pelo mesmo valor", detalha.

"Valor irreal"

O empresário Edivaldo Tuschi corrobora a informação e diz que tem vendido o etanol com uma margem de lucro de R$ 0,17, o litro, quando o normal seria vender de R$ 0,30 a R$ 0,35 mais caro que o valor de custo. Na Capital, por exemplo, o produto já é vendido a R$ 2,39. "O preço praticado em Bauru é totalmente irreal e impossível de ser mantido por muito mais tempo", garante.

Mas, mesmo com os preços estejam em alta, os proprietários de carros flex ainda tem se dividido no momento de escolher o combustível mais vantajoso. Com o litro da gasolina sendo comercializado a R$ 2,69, o operador industrial Robert Wagner, 32 anos, por exemplo, ainda prefere abastecer seu carro com etanol, mas adianta que irá trocar de combustível se o preço do álcool continuar subindo.

"Na região, o etanol está mais em conta e ainda compensa. Mas sei que, em Bauru, não está compensando mais. Na próxima alta, já pretendo começar a comprar gasolina", diz. Já a comerciante aposentada Maria Inês Carolina Lamônica dos Santos, 61 anos, vem optando pelo combustível fóssil há cerca de dois meses.

"Já enchi três tanques com gasolina, que também não está barata. Na verdade, acho uma vergonha o que ocorre no Brasil, porque tudo o que a gente compra está cheio de imposto embutido", analisa.

Para concluir qual é a melhor alternativa, o consumidor deve dividir o preço do litro do álcool pelo preço da gasolina. Se o resultado for maior que 0,7, deve optar pelo segundo combustível. Se for inferior, é melhor ficar com o etanol. Em Bauru, o valor deste cálculo está atualmente em 0,703, garantindo leve vantagem para quem encher o tanque com gasolina.

Pico

Para os meses de novembro, o valor mais alto que o etanol havia atingido antes de 2011 foi no ano passado, quando era comercializado a R$ 1,69, segundo dados do Sistema de Levantamento de Preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em 2011, o preço do combustível chegou ao pico de R$ 2,29 em março e abril, pouco antes do início da safra, marca que poderá ser superada no início de 2012, segundo previsão de especialistas.

Gasolina

Para evitar que a alteração do percentual de mistura de álcool anidro à gasolina acarrete aumento do preço do combustível fóssil para o consumidor final, o governo anunciou, em outubro e novembro, duas reduções consecutivas nos valores da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a importação e o comércio de petróleo e derivados.

Em outubro, o imposto cobrado às refinarias pela Petrobras foi reduzido em R$ 0,04 por litro, passando de R$ 0,23 para R$ 0,19. Em novembro, as alíquotas voltaram a cair, desta vez de R$ 0,19 para R$ 0,09, valor que irá vigorar até junho do ano que vem. A ideia é que o desconto chegue até o consumidor final para evitar a alta desenfreada de preços de gasolina e diesel, com a conseqüente pressão sobre o índice geral de inflação, cujo teto da meta estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para este ano é de 6,5%.

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