Financiamentos ficam mais caros para usinas

Mesmo os projetos de novas usinas de cana-de-açúcar que ainda não foram postergados já sofrem os efeitos da crise global, que encareceu os financiamentos e os tornou mais escassos até para empresas consideradas de primeira linha.

É o caso da Brenco, comandada pelo ex-presidente da Petrobras Henri Phillipe Reischtul e que tem entre os sócios James Wolfensohn (ex-presidente do Banco Mundial) e Steve Case (ex-AOL-Time Warner). Uma conseqüência imediata dessa crise é que o custo do crédito cresceu, diz José Alfredo de Freitas, diretor financeiro da companhia.

A Brenco já assegurou recursos -próprios e de financiamento- para a construção de quatro usinas de álcool, no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e duas em Goiás. Os sócios aportaram R$ 600 milhões, e um empréstimo do BNDES de R$ 1,2 bilhão já foi aprovado.

Mas enquanto os recursos do banco estatal não são liberados, diz Freitas, a empresa toca os projetos com R$ 300 milhões em empréstimos-ponte de bancos privados, cujas taxas já subiram.

Oferta de ações

A Brenco pretende realizar uma oferta pública de ações no próximo ano para captar recursos para a instalação de mais usinas, mas não descarta adiar a oferta, caso a turbulência permaneça.

O mesmo ocorre com outra neófita do setor, que anunciou planos ousados de investimento: a ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, que também contraiu empréstimos-ponte à espera da liberação dos recursos do BNDES. O crédito no momento está mais difícil, afirmou Eduardo Pereira de Carvalho, vice-presidente de Relações Institucionais da EHT.

A empresa aguarda a aprovação de um financiamento de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,5 bilhão do BNDES para financiar a construção de três usinas -em São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Os projetos já estão em fase de implantação, e 40% dos recursos necessários já foram aportados pelo controlador.

A usina Santa Cândida, em construção no Mato Grosso do Sul, também sentiu os efeitos da crise. O nosso projeto encareceu em R$ 30 milhões, e a taxa de juro cobrada pelos bancos já subiu cinco pontos percentuais, disse Josmar Verilo, presidente da companhia.

Para Antônio Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica, outro importante impacto da crise foi no financiamento às vendas externas, especialmente de açúcar, que se contraiu e agravou a situação do setor, já afetado pelo cenário de preços da commodity deprimidos.

Temos uma produção sazonal, e quase 40% das vendas de açúcar vão para o mercado externo. Quem financia essa produção são os ACCs [Antecipação de Contrato de Câmbio], que estão cada vez mais raros.

Carvalho, da ETH, diz ainda que essa fonte de financiamento às exportações secou, o que prejudicou as vendas externas. A companhia já tem outras duas usinas em operação.

Carteira de projetos

Apesar da crise, o BNDES, que tem em sua carteira 78 projetos de pedido de financiamento de usinas, continua otimista: Não acredito que os grupos com projetos em análise [no banco] venham a adiar projetos. Nossas avaliações de médio e longo prazos são bastante positivas, diz Paulo Faveret, gerente do Departamento de Biocombustíveis do banco de fomento estatal.

Segundo Faveret, a maioria dos projetos de álcool se baseou na expansão do mercado interno, sem focar nas exportações -que podem ser afetadas com a contração da economia mundial provocada pela crise.

Fonte: Folha de SP, em 10/11/08.

Deixe um comentário