Indústria fatura mais sem aumento da folha salarial

Os indicadores industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) do mês de agosto, na interpretação dos seus autores, emitem sinais ambíguos, não muito diferentes dos dados apresentados alguns dias atrás pelo IBGE, mas mais completos.

O IBGE mostrava uma queda de 0,1% da produção física (com dados dessazonalizados), enquanto a CNI fala em queda de 0,3% (excluindo mineração). O que parece anormal é um aumento de 0,5% das horas trabalhadas e de 0,8% do emprego, dados que parecem indicar uma melhora da produtividade, enquanto a massa salarial real acusa redução de 3% e o rendimento médio real exibe queda de 4,1%. Paralelamente, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI), em termos dessazonalizados, ficou em 82,3%, ante 82,5% no mês anterior.

Essa redução pode ter-se originado no aumento dos investimentos realizados pela indústria em razão de uma elevação da demanda no final do ano. Desde abril a UCI se está reduzindo, o que se constitui num fato importante, levando em conta a atenção que as autoridades monetárias têm dado a esse indicador para fixar a taxa de juros básica.

Pode-se admitir que um aumento dos investimentos se faz justamente para substituir mão de obra, levando em consideração seu custo cada vez maior. No entanto, é uma hipótese que parece contradizer a elevação do emprego, assim como a elevação das horas trabalhadas.

Os indicadores da indústria parecem descartar a falta de mão de obra no setor (a situação é diferente na construção civil). Os sinais ambíguos que a CNI assinala podem ser esclarecidos quando se verifica que os dois setores cuja produção mais cresceu em agosto foram os de couro e calçados e de vestuário. São dois setores que estão saindo de um longo período de estagnação, em que a disponibilidade de mão de obra é grande e que exigem um número elevado de empregados. E são setores em que a demanda é maior no fim do ano.

Um outro fator pode explicar a anomalia dos dados da CNI: no final do ano se emprega um pessoal suplementar com salário mais baixo, enquanto, paralelamente, às vésperas do período de reajuste salarial as empresas, para atender às suas necessidades, procuram contratar pessoal com salário baixo, levando em conta que pouco depois terão aumentos.

O que nos parece importante é que os dados da indústria indicam que não existe falta de mão de obra e que o nível de emprego cresce só marginalmente, com pessoas pouco exigentes para trabalho temporário.

Fonte: Estadão, em 06/10/2010

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